Baseado em fatos reais.
A história narrada a seguir aconteceu comigo em Janeiro de 2006.
Aquele foi um verão diferente.
Ela estava aproveitando as férias na praia com as primas, até que um dia, ela avistou do outro lado da rua onde ficava o apartamento dela, um atelier, mas nao foi isso que ela reparou, e sim no pintor que ficava do lado de fora fazendo suas obras.
Todas as tardes, que por sinal não foram mais as mesmas desde aquele dia, ela descia e ficava sentada olhando pro outro lado da rua, levava seus aparatos pra ele não desconfiar que estava sendo visto por ela, livros, música, filmadora, aconteceu até uma espécie de plágio de beleza americana naquilo tudo quando ela filmava ele.
Ela estava instigada, olhar já não dava mais, ela queria ver os quadros, mas e a coragem pra atravessar a rua?rua que parecia ter muitos obstáculos, daqueles de filme trash, jacarés, tubarões, homens com foice, até que um dia, voltando da noite que ela saia com as primas, umas 4 da manhã, tudo deserto, jacarés e tubarões dormindo na maior sintonia, ela atravessou a rua, encostou o rosto na janela empoeirada e olhou os quadros dentro do atelier, ficou maravilhada com tanta beleza, a poeira ficou nos dedos quando ela resolveu deixar um recado na janela suja "estou apaixonada por você", soprou os dedos, atravessou de volta e entrou no apartamento dos avós onde estava hospedada. No dia seguinte o frio na barriga, o medo de descer, ela saiu, fez o que fazia naquelas férias, foi pra praia com as primas, aproveitou, na volta, sentou do outro lado da rua e observou mais uma vez o pintor, o jeito que ele trabalhava seus quadros do lado de fora, os movimentos dele, os gestos.Saiu pra noite mais uma vez, e quando voltou passou pelo atelier, e pra surpresa dela, o recado tinha sido respondido na janela empoeirada, ja não mais só empoeirada, agora cheia de frases soltas, "apareça, deixe seu telefone", então ela respondeu "você me vê todos os dias.".Você não precisa imaginar o que aquela menina sentiu quando ela leu aquilo, na rua deserta, acesa somente por uma padaria que funcionava 24 hras, ela dançou na rua, sem ligar pros olhos da lua, muito menos para os funcionários da padaria que observaram com sorriso no rosto a alegria contagiante dela, ela ainda os chamou pra dançar, então ela subiu mais uma vez. Dormiu o sono profundo, mas o final estava chegando, ela não acreditara que ia embora no dia seguinte, ela só tinha mais um dia pra atravessar a rua de dia, então foi a praia com a irmã e o cunhado, pensou, pensou, mas o frio na barriga cada vez mais incontrolável, o atelier fechava as 19hras.Chegou da praia umas 17hras e desceu com seu livro, o qual olhava por cima para ver ele, então o cunhado desceu pra ver se ela tinha tido coragem pra atravessar, mas não, ela continuava la, sem saber o que fazer e o tempo passando.Ela conversou com o seu cunhado que deu a idéia de ir la olhar uns quadros para sua mãe, e também a confortou dizendo que se não desse certo que iria amanhã mesmo pra casa então não teria a menor importancia. Então ela foi, caminhou passo por passo por aquela rua que parecia ser infinita porque o atelier não chegava nunca, desviou dos jacarés que abriram o caminho pra ela passar, tudo conspirava ao seu favor, e então, ela subiu na calçada, deu a volta, e foi pra porta, uma luz forte veio de dentro, então ela viu ele, estava pintando, então ele perguntou:
- Posso ajudar?
- Brigada, estou olhando um quadro pra levar pra minha mãe.
- De qual você gostou mais?
Eram tantos quadros lindos que ela não sabia o que responder, mas viu uma releitura de Picasso na parede do canto, quase escondido.
-Gostei desse!
Não era um quadro dele, mas ela gostou da sensibilidade da releitura, achou fabuloso.
Então ele a convidou pra sentar, os dois começaram a conversar e um sabendo quem era o outro e sem coragem pra falar.Então depois de muita conversa ela jogou a primeira ficha.
- Vi que você respondeu meu recado.
- Sim respondi.
Um silencio no meio daquelas obras.Então ela quebrou ele.
-Você sabia que era eu?
Ele respirou fundo.
-No momento em que você pela porta eu soube.
De novo o silêncio, dessa vez quebrado quando ela foi surpreendida por um beijo.
Diferente do que ela imaginava, mas ja que estava na praia, decidiu de molhar.
Combinaram de sair depois do expediente dele.
Ela atravessou a rua que ao invez de jacarés, havia se transformado em um campo verde lindo.
Ela subiu correndo, abraçou o cunhado frenética, gritando afobada, quase sem ar pela subida de três lances de escada
- Eu consegui, conseguiii!Vamos sair mais tarde.
Correu pro chuveiro, enquanto a água caia em seu rosto sem ela acreditar.Se enfeitou.
Encontrou ele as nove, naquele dia o atelier fechou mais tarde devido a longa conversa dos dois.
Foram caminhando para a praia, um meio longe do outro, era tudo estranho, mas incrívelmente emocionante.Foram para uma pedra frente ao mar, a noite estava linda, brisa gostosa de janeiro.
Ali trocaram suas vidas.Voltaram, se beijaram onde tudo começou, ele pediu uma foto pra pintar a ela, ela ficou emocionada em saber que ia ganhar um quadro das mãos do seu artista.A noite acabou, ela subiu, dormiu, acordou...
Último dia, foi pra praia, como o aeroporto era longe, não ficou muito tempo, voltou, desceu com suas coisas, passou la pra dar tchau, trocaram endereços e palavras, e ele desejou boa viagem.
Tudo aconteceu do jeitinho que escrevi, inclusive os diálogos.
Foi bacana o que vivi, não é do meu jeito ser romantica assim, mas não sei, a ocasião pediu, pro momento ficar mais cinematografico.
Um dia pretendo transformar essa história em um curta.
Pra mim foi just like movie.